quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Lições de Hitchens para Guga Chacra e outros “liberais” de coração-mole


Hitchens para Guga: "Islamofobia é um termo vago e linguisticamente desajeitado."

“O Islã é uma religião de paz?” foi a pergunta que norteou o debate entre o jornalista iChristopher Hitchens, ateu, e o acadêmico suíço Tariq Ramadan, um muçulmano, em 2012, quando Hitchens começava a perder a batalha para o câncer.

“Após uma atrocidade cometida em nome do Islã qualquer um pode dar de ombros e dizer: ‘Ah, bom, aquilo não é o verdadeiro Islã. Ou ainda: ‘Ah, mas aqueles caras não são verdadeiros muçulmanos’. Mas onde está a autoridade para definir o que é o Islã real ouos verdadeiros muçulmanos? Quem pode dar a palavra final?”, alfinetou o jornalista inglês.

Christopher Hitchens não tinha medo de dizer coisas feias e desagradáveis em um mundo onde o politicamente correto venceu e faz baixas até nas fileiras da Direita.

O que ele diria dos atentados cometidos pelo grupo radical islâmico Al-Shebab no Quênia (65 mortos)? É "uma resposta da nação islâmica à ingerência do governo do Quênia e dos judeus nos assuntos da Somália”, disse um porta-voz do grupo. 

Atentado no Quênia: o que Hitchens nos lembraria?

Muitos analistas enxergaram neles apenas viés nacionalista.

É claro que se os tais “militantes” islâmicos fossem pessoas razoáveis poderiam encontrar outro meio de resistir à suposta ingerência do Quênia na Somália. Todos nós sabemos, contudo, qual é o procedimento padrão dos fundamentalistas islâmicos.  

O comentarista de política internacional do programa Globo News Em Pauta, Guga Chacra, fez uma análise rápida do episódio sangrento. Mas ofereceu as informações corretas: trata-se de um grupo extremista, cujo nome em árabe significa “juventude”, e parecia poderoso no passado.

Porém, há muito tempo o grupo estava desacreditado e considerado incapaz de ações tão sangrentas. Chacra afirmou que muitos analistas “acharam estranho” que o Al-Shebab tenha tido condições de fazer um atentado “dessas dimensões” no Quênia.

Hitchens insistia em mostrar o islamismo radical como um movimento global de terror. O jornalista ateu, um estudioso do fascismo, chegou a classificar o islamismo radical como o único movimento totalitário global em ascensão no mundo contemporâneo.

Radicais islâmicos ameaçaram novos ataques em Nairóbi

Se pensarmos em um “movimento global”, conforme a classificação de Hitchens, a estranheza dos analistas é mitigada. O tal Al-Shebab pode muito bem ter sido financiado e armado por mecenas ou outras redes terroristas de qualquer lugar do mundo.

As últimas informações confirmam que o grupo é apoiado pela Al-Qaeda. Os radicais do Islã formam uma rede global coesa, na qual existe troca de dinheiro, informações, alvos, e causas políticas – quanto inocentes foram mortos por “solidariedade à Palestina”?

O besteirol sobre a Islamofobia

Chacra: o medo dos americanos é irracional e exagerado? Mesmo?

O que chama a atenção nos artigos de Guga Chacra no Estadão é sua insistência em um termo de uso compartilhado pela esquerda e direita: islamofobia. 

Dez em cada 10 artigos de autoria de Noam Chosmky sobre política externa americana trazem a acusação de islamofobia - embora Chomsky nem sempre use diretamente o termo. Guga Chacra parece que vai ultrapassar o anarquista. 

Em um artigo choroso, “A Islamofobia depois do 11 de Setembro – uma campanha organizada dos anti-muçulmanos”, publicado em setembro de 2011, Chacra dá a impressão de que os americanos estão paranoicos sem muitos motivos para tal.


Chomsky e Chacra: está rolando alguma competição, rapazes?

“Antes do 11 de Setembro, os muçulmanos mais famosos da história dos Estados Unidos eram o boxeador Muhammad Ali e o ativista de direitos humanos Malcolm X”, escreveu o mestre em Relações Internacionais. 

Antes de prosseguir: “Direitos humanos”?

Malcom X tinha a mesma visão segregacionista da Ku Klux Klan de que negros e brancos deveriam viver em comunidades separadas. Alguns biógrafos relataram um encontro de Malcom com oficiais da Klan. Ele nada tinha de defensor de direitos humanos.

“Ninguém se importava que o presidente da Argentina na década anterior, Carlos Menem, era muçulmano e tampouco cogitavam a possibilidade de ele implantar a Sharia (lei islâmica) em Buenos Aires”, acrescentou Chacra.

A razão pela qual “ninguém se importava” volta à tona hoje na Argentina. Em 1994 a explosão de uma van em frente ao prédio onde funcionava a Associação Mutual Israelita Argentina deixou 85 mortos. 

Na época uma investigação excepcionalmente rápida conduzida pelo governo de Menem concluiu genericamente que a culpa era de “autoridades do Irã”. E só isso. O assunto morreu com os mortos.

 O ex-presidente argentino é acusado de acobertar ato contra judeus

Em duas décadas de investigações, o procurador especial Alberto Nisman concluiu que o atentado contou com apoio de várias organizações terroristas, incluindo o Hezbollah. Hoje o ex-presidente é acusado de obstruir a investigação do atentado e enfrenta processo judicial.

No mesmo artigo Chacra afirma que após o 11 de setembro muitos muçulmanos começaram a ser alvos nos Estados Unidos, apesar de o governo de George W. Bush sempre defendê-los, martelando que “o Islã era uma religião da paz, e não do ódio”.

Porém, notou o jovem comentarista, a chegada de Barack Obama ao poder trouxe novamente à tona a  islamofobia, ou seja, a aversão aos muçulmanos. Tudo isso, na interpretação dele, porque o novo presidente “era negro e filho de pai muçulmano”.

Bush: “o Islã é uma religião da paz, e não do ódio”.

“Um terço dos americanos acha que muçulmanos não deveriam ter o direito de concorrer à Presidência dos EUA e 28% são contra um seguidor do islã na Suprema Corte, de acordo com levantamento da revista Time”, escreveu Chacra, bastante horrorizado.  

A ideia de impedir um muçulmano de ocupar a presidência é estúpida. Porém, o mal estar com o resto não é. Os americanos estariam sendo fóbicos ou exagerados em sua paranoia? Será que a tal islamofobia tomou conta dos corações e mentes sem justificativa?

“Islamofobia é um termo vago e linguisticamente desajeitado. Fobia é medo irracional. O meu medo do terrorismo islâmico, por exemplo, não é irracional. É muito bem fundamentado”, escreveu Christopher Hitchens em um de seus artigos na Vanity Fair.

Não há nada de exagerado no medo crescente dos americanos em ver a ascensão de tantas mesquitas nos Estados Unidos. Todos nós sabemos que os clérigos islâmicos radicais transformam muitas delas em verdadeiras incubadoras de fundamentalismo.

A "Viúva Branca": jovens ocidentais cooptados por clérigos radicais

E o discurso belicoso dos clérigos radicais é especialmente atraente para os jovens ocidentais nestes tempos pós-modernos. Aliás, a polícia queniana investiga se a britânica Samantha Lewthwaite, conhecida como “viúva branca”, teve envolvimento com os ataques do grupo islâmico Al-Shabab ao shopping no Quênia.

Fascismo islâmico

Hitchens cunhou a expressão “fascismo com face islâmica” logo após os ataques de 11 de Setembro para atacar os fundamentalistas muçulmanos e, ao mesmo tempo, fazer sua apologia da desastrada guerra no Iraque.

Apesar das críticas virulentas, Hitchens insistiu em dizer coisas feias. Após uma enxurrada de ataques, muitos do velho Chomsky, o jornalista escreveu um artigo magistral, “Defendendo o termo fascismo islâmico”, no qual explica conceitualmente o termo.

Hitchens: semelhanças evidentes entre fascismo e islamismo radical

“Fascismo e fundamentalismo islâmico são movimentos baseados em um culto da violência que exalta a morte, a destruição e despreza a vida mental. Ambos são hostis à modernidade e amargamente nostálgicos. Ambos são obcecados com ‘humilhações’ reais e imaginárias e sedentos por vingança”, escreveu Hitchens.

O autor de “Deus Não é Grande” enfatizou ainda que fascismo e o fundamentalismo islâmico são sistemas totalitários de pensamento que sofrem de um desejo de morte. Não é por acaso que ambos salientam táticas suicidas e a ideia de sacrifício.

“Os dois, o fascista e o fundamentalista islâmico, preferem ver a destruição de suas próprias sociedades do que qualquer compromisso com os infiéis ou qualquer diluição das alegrias de absoluta ortodoxia doutrinária”, afirmou Hitchens.

Os delírios de Chacra

Guga Chacra sempre à postos: a zueira never ends

Em outro artigo que lembra um violinista tocando algo triste no telhado, “De Teerã a Nova York – A equação para entender a islamofobia e o islamofascismo”, Guga Chacra consegue a proeza de utilizar os dois termos e, ao mesmo tempo, desautorizá-los. Confira:

“Quando um pastor na Flórida ameaça queimar o Alcorão, um taxista de Nova York é esfaqueado e mesquitas em oito Estados sofrem ataques, em atos claramente islamofóbicos, acaba acentuando o islamofascismo. Por exemplo, o aiatolá Ali Khamanei, do Irã, aproveita o episódio para dizer que existe um complô dos EUA para queimar o livro sagrado do islamismo”.

Quando li a frase acima pela primeira vez, senti vergonha alheia. É mais do que evidente que os aiatolás de plantão usam qualquer pretexto para sua agenda de terror. Mas nem um chiclete ligaria tais desculpas com o sistema fechado que é o islamismo radical.

O aiatolá Ali Khamanei: preocupado com texanos malucos?

Os episódios de violência ou intolerância contra muçulmanos na América nada tem a ver com o fascismo islâmico que, como Hitchens ensinou, é um sistema de pensamento totalitário que cultua a violência! Ele não precisa ser alimentado por fatores externos!

Com ou sem taxistas assassinados, com ou sem texanos amalucados que não fazem sexo e preferem queimar os livros sagrados dos outros, o fascismo islâmico continuará existindo por si mesmo, fechado, autossuficiente. 

“Quando um soldado muçulmano mata seus colegas em uma base militar no Texas, um nigeriano tenta explodir um avião em Detroit e um paquistanês coloca um furgão com explosivos no Times Square, em atos claramente islamofascistas, acaba acentuando a islamofobia. Aumentam as ações contra os muçulmanos em geral, temendo que eles realizem ataques terroristas e tratando todos os seguidores como se fossem a mesma coisa”.

Mais uma vez: fobia é medo irracional. Chacra usa um termo imbecil para se referir ao medo “muito bem fundamentado” dos americanos diante da emergência do islamismo em suas variantes radicais, com as consequências previstas, em todo mundo.  

Trilha sonora dos artigos de Chacra no Estadão 

“Muitos islamofóbicos nem percebem que são. Normalmente, nunca viram um muçulmano ao vivo, não conhecem países de maioria islâmica e são influenciados por órgãos de imprensa como a Fox News, claramente islamofóbica. Imaginam que os muçulmanos queiram dominar o Ocidente, propagando uma série de mentiras...”

Sim, cry me a river...

Sentimentalismo bocó à parte, os fanáticos islâmicos operam um arcabouço conceitual fascista, que incluí “puro” e “perfeito” contra “imundo” e “profano”. Anote isso, Chacra: todo o Ocidente, para os islâmicos radicais, é imundo e profano. Faça as contas.

O direito à indiferença



No debate com Tariq Ramadan, Hitchens enfatizou a semelhança entre fundamentalismo islâmico e sistemas totalitários. Parecia evidente para o ateu que onde há predominância de variantes radicais do Islã o pluralismo e a democracia são inviáveis.

“O Islã clama ser a última e definitiva religião, a revelação final. Alega ser a solução para tudo e deve tomar conta de toda a vida. Isso engloba sexualidade, economia, dieta alimentar etc. É a resposta total. E a resposta total sempre precede o totalitarismo”, observou Hitchens. 
  
Ele lembrou que o cristianismo e judaísmo, originalmente, tinham a mesma pretensão – o judaísmo em uma escala menor. Mas ambos foram modificados por influências externas e hoje são muito mais flexíveis, embora (para Hitchens) igualmente estúpidos.

Em um texto curto, “Powell combate islamofobia na campanha eleitoral americana”, de outubro de 2008, Chacra escreveu o seguinte:

“Demorou, mas enfim uma figura de expressão na política americana se levantou contra a islamofobia que tomou conta da campanha eleitoral americana. Colin Powell afirmou que, caso perguntem se Obama é muçulmano, “a resposta correta é: ‘Ele não é muçulmano, ele é cristão’. Mas a verdadeira resposta certa é – ‘e se ele fosse? Há alguma coisa errada em ser muçulmano neste país?’ A resposta é não, não nos Estados Unidos”.

Powell: o legado do pluralismo ocidental

Guga Chacra não consegue enxergar a herança do pluralismo ocidental na resposta do republicano Colin Powell. Um cristão só poderá ser presidente de um país de maioria muçulmana se em tal nação o direito à indiferença for garantido.

Ou seja, se for estabelecido institucionalmente que a religião alheia é desimportante. Mas onde predomina o fundamentalismo, o direito à indiferença inexiste e todos devem se submeter às verdades sagradas, ainda que confessem outra fé.

“Nos países onde há fundamentalismo islâmico não se pode afirmar nada destoante do Alcorão. Repito: não se pode afirmar publicamente nada que destoe do Alcorão! Nem mesmo não-muçulmanos. Os cristãos não fazem mais isso em relação a Bíblia, os judeus não fazem mais isso em relação ao Pentateuco”, apontou Hitchens no debate.

Invertendo a pergunta de Powell: “Há alguma coisa errada em ser cristão em países onde predomina o islamismo radical? A resposta é sim... Nesses países, sim”.

Artigos citados:

http://www.slate.com/articles/news_and_politics/fighting_words/2007/10/defending_islamofascism.html

http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/de-teera-a-nova-york-a-equacao-para-entender-a-islamofobia-e-o-islamofascismo/

http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/powell-combate-islamofobia-na-campanha-e/

http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/a-islamofobia-depois-do-11-de-setembro-um-campanha-organizada-dos-anti-muculmanos/


PS.: Não sei se Guga Chacra é liberal, libertário, conservador ou apenas fã de John Lennon. Mas o termo “liberal de coração-mole” se encaixou perfeitamente com tudo o que li em seus artigos e por isso o utilizo aqui com licença poética.  

3 comentários:

  1. Li seu texto e voce é um tanto deselegante com um profissional. Ou melhor, lhe falta educação, o que Guga Chacra tem de sobra.

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  2. Muito bom e crítico o texto.O problema é que atualmente não se pode criticar nada e muito menos ainda quando se trata da religião islâmica!Qualquer crítica é vista como islâmica e racista,sendo que religião não é grupo étnico ou raça.É um sistema de crença numa suposta deidade que foi criado por humanos,portanto passível de diferentes visões de mundo.Por isso,existem tantas religiões no mundo.E o segundo problema é a visão geral de que determinados grupos religiosos são sempre "bons"e "perfeitos"como Deus ou Deuses e portanto merecedores de toda a compreensão,e custa e perdão.E é um engano porque todas as religiões já mataram,estupraram,violentaram,assassinaram ,dizimaram muitas minorias étnica e religiosas como é o exemplo do Irã do Aiatolah Komeini....Como fizeram os turcos-otomanos muçulmanos....e como fazem hoje os grupos de terroristas muçulmanos do DAWESH,Boko Haram,Há mas,HEZBOLLAH....Assim,todas as religiões podem e devem ser criticadas, pois caso contrário estaremos estimulando a procrastinando a perpetuação de dogmas absurdos que acabarão por invadir a vida civil,a vida pública,comprometendo a res publicae,os príncipis democráticos,o princípio de igualdade entre todos os cidadãos-SEM PRIVILÉGIOS-e finalmente o Estado de Direito.Portanto,que sejamos deselegantes quando não nos falta à crítica ao defender os princípios de igualdade dos cidadão da res pública..
    Isto certamente os muçulmanos desconhecem....

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  3. Muito bom e crítico o texto.O problema é que atualmente não se pode criticar nada e muito menos ainda quando se trata da religião islâmica!Qualquer crítica é vista como islâmica e racista,sendo que religião não é grupo étnico ou raça.É um sistema de crença numa suposta deidade que foi criado por humanos,portanto passível de diferentes visões de mundo.Por isso,existem tantas religiões no mundo.E o segundo problema é a visão geral de que determinados grupos religiosos são sempre "bons"e "perfeitos"como Deus ou Deuses e portanto merecedores de toda a compreensão,e custa e perdão.E é um engano porque todas as religiões já mataram,estupraram,violentaram,assassinaram ,dizimaram muitas minorias étnica e religiosas como é o exemplo do Irã do Aiatolah Komeini....Como fizeram os turcos-otomanos muçulmanos....e como fazem hoje os grupos de terroristas muçulmanos do DAWESH,Boko Haram,Há mas,HEZBOLLAH....Assim,todas as religiões podem e devem ser criticadas, pois caso contrário estaremos estimulando a procrastinando a perpetuação de dogmas absurdos que acabarão por invadir a vida civil,a vida pública,comprometendo a res publicae,os príncipis democráticos,o princípio de igualdade entre todos os cidadãos-SEM PRIVILÉGIOS-e finalmente o Estado de Direito.Portanto,que sejamos deselegantes quando não nos falta à crítica ao defender os princípios de igualdade dos cidadão da res pública..
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