A genética derrubou o mito das raças. Só os políticos ainda acreditam nelas |
Raça é coisa de cachorro. Nós, seres humanos, formamos uma espécie. A cor da pele é uma mera adaptação a diferentes níveis de insolação.
Ou seja: todos os seres humanos (negros, brancos, ameríndios, etc) são geneticamente semelhantes.
Graças aos avanços do Projeto Genoma Humano hoje sabemos que é impossível dividir a humanidade em raças. Porém, infelizmente, fortes interesses políticos e econômicos ressuscitaram o mito das raças no Brasil.
As “raças” foram reinventadas em nosso País para que políticos possam criar redutos eleitorais “raciais” e organizações “não-governamentais” possam receber dinheiro do governo para realizar “projetos de afirmação da identidade racial”.
Os racialistas (crentes no mito das raças) são poderosos. A crença deles é uma bobagem refutada pela ciência, mas isso não os impede de receber grana do Estado, que agora também passou a nos dividir de acordo com o mito racial.
O “Dia da Consciência Negra” – que provavelmente vai se tornar feriado nacional – nada mais é do que a cereja do bolo de ódio e divisão preparado pelos racialistas.
Trata-se de uma celebração excludente, marcada pelo ressentimento, que promove entre nós uma segregação cultural estúpida e perigosa.
O Brasil mestiço não se enquadra na divisão binária "negros versus brancos" |
O maior perigo é a via de mão dupla da lógica racialista: se admitimos a existência de uma “raça negra” somos obrigados, pela lógica, a aceitar a existência de uma “raça branca”. E os membros da “raça branca” terão o direito de se organizar, exigir "direitos" e amparo do Estado.
A “consciência negra” é uma convocação para a “consciência branca”. Se o Estado fornece dinheiro para organizações que promovem o “orgulho negro”, terá de dar dinheiro para organizações voltadas à promoção do “orgulho branco”.
As camisetas que dizem “100% Negro” também legitimam o seu oposto. Não é difícil imaginar que em breve jovens brancos e pobres – que nunca terão direito às cotas – exibirão seu ressentimento usando camisetas onde leremos: “100% Branco”.
Um parêntesis. Os defensores das cotas raciais se limitam a repetir chavões e slogans, mas não se aprofundam no tema. Não conhecem, por exemplo, a pesquisa do economista negro Thomas Sowell. O professor provou, com dados irrefutáveis, que as cotas raciais representam pior modelo de ações afirmativas.
O economista Thomas Sowell demonstrou que cotas raciais não funcionam |
Nos EUA havia uma segregação oficial que, a princípio, legitimou as cotas. Isso sequer existiu aqui. No Brasil as cotas instalaram uma competição entre filhos de trabalhadores da classe média baixa, igualmente pobres e oriundos de um péssimo sistema de ensino. O que precisamos são de cotas sociais. Fecha parêntesis.
Ao invés de promover a integração dos brasileiros, o “Dia da Consciência Negra” semeia a divisão e o ressentimento. É a data na qual militantes racialistas tentam fazer brancos pobres se sentirem culpados pela condição dos negros pobres.
O racismo que nasce desse contexto também joga por terra a grande contribuição da sociologia brasileira aos esforços de construção de uma identidade nacional: o conceito de mestiçagem de Gilberto Freyre.
Gilberto Freyre abriu as portas da academia para o Brasil mestiço |
A mestiçagem era vista com desprezo tanto pelos nossos intelectuais como também pela elite. No seu clássico “Casa-Grande & Senzala”, Gilberto Freyre demonstrou que a mestiçagem é uma a via harmoniosa de fusão de raças e culturas, e que diferencia positivamente o Brasil de todas as outras nações.
A mestiçagem não sobrevive ao lado do mito das raças. O ódio que alimenta a divisão racial anula completamente a celebração do caráter mestiço do povo brasileiro, o que era nossa mais importante fonte de autoestima.
O texto é fortemente inspirado no livro "Uma Gota de Sangue", de Demétrio Magnolli.